Quando o movimento cresceu nas pessoas…

Vinte e duas pessoas da UFF foram ao Erecom Seropédica 2014. Vinte e duas pessoas da UFF voltaram de lá. Mas será que essas pessoas da volta são as mesmas que foram?

Não sabemos dizer. Mas esperamos que cada uma e cada um tenha se sentido pessoalmente tocadx por tudo aquilo que viu e viveu por lá. Que a sua empatia pelx outrx tenha multiplicado. Que, passado o encontro, vejam ainda mais sentido em transpor nossos debates e utopias para o campo da ação.

O DACO agradece a cada uma dessas pessoas que participaram do encontro e se propuseram a sentir na pele a urgência por uma comunicação que expresse verdadeiramente a nossa liberdade. Agradecemos também às lindas e aos lindos com que topamos ao longo do caminho, e que tornaram a nossa experiência ainda mais transformadora.

A luta não para, e por isso convidamos mais uma vez a delegação uffiana e toda a comunidade acadêmica representada pelo diretório a construir o DACO, e imprimir nele a sua própria marca. Assim como cada membro da delegação uffiana imprimiu a sua na memória do Erecom Seropédica 2014 e na história da Enecos. E como esperamos que o encontro tenha também impresso a sua marca em cada uma e cada um de vocês.

“Sou, eu sou Enecos, eu sou, e eu vim comunicar que ninguém vai me segurar: VAMOS À LUTA!”

Como seremos bons comunicadores se não tivermos afeto pelo outro?

Meu relacionamento mais sério com a cidade de Seropédica começou no dia 10 de outubro e durou por três dias. Isso não impediu, de maneira nenhuma, a efervescência da relação que ali estava se iniciando.

Estava assistindo a um painel sobre “Combate às Opressões” – uma das bandeiras defendidas pela Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (ENECOS) em um auditório da UFRRJ – a famosa “Rural”. Porém, logo após a saída d@s palestrantes, aconteceu algo que achei inicialmente bem estranho: uma menina, que estava distribuindo pequenas tiras de TNT, pediu para que amarrássemos esta tira na altura dos olhos. Logo, percebi que as luzes do auditório foram apagadas.

Comecei, então a ouvir um som de sirene de polícia, enquanto uma mulher narrava manchetes que eram ligadas à violência de gênero e homofobia. (por exemplo, “Aluna da Rural sofre tentativa de estupro” e “A homofobia no Brasil cresce cada vez mais”). De repente, surgiram vozes gritando: “Puta!”, “Viado!”, “Vagabunda!”. Estas palavras me deixaram sentido. Atingiam a todos na sala. Apesar de nem todos serem mulheres ou homossexuais, houve uma pequena (e, ao meu ver, inesquecível) experiência na qual todos puderam sentir as mesmas dores.

Todos foram atingidos pelas mesmas palavras. Poderosas palavras, que podem destruir – como fazem – a autoestima e reforçam a posição de marginalidade de uma pessoa em relação a sociedade em que vive.

Comecei a ouvir choros de uma platéia que ouvia o que milhares de pessoas têm de ouvir nas ruas. Eu não chorei, mas engoli de tal intragável forma aqueles insultos que me deu um instante de revertério. Como uma ideia constante de que “aquilo não está acontecendo”. Mas, de alguma forma estava.

Esta foi uma manifestação artística com um cunho fortemente social que, dentro da ENECOS, denomina-se “Mística”. Assim, o Encontro Regional dos Estudantes de Comunicação Social me deu a oportunidade de repensar as problemáticas que surgem aos estudantes da área. Na base do impacto e do debate.

Quando já me sentia insustentável com a situação, reconheci uma voz amiga que cantava que “Olhar para o outro faz bem”. Enquanto isso, retirava-se o pedaço de TNT que me vendava. Me achei em uma sala escura, que demonstrava a invisibilidade na qual se encontravam as pessoas atingidas por essas violências. E, logo depois, uma pergunta foi feita a platéia: “Como vocês querem ser bons comunicadores se não tiverem afeto e sensibilidade pelo outro?”. Para mim, não existe como.

Olhando para trás, percebo que foi pouquíssimo tempo de evento. Mas, ao mesmo tempo, percebo o quanto ganhei de experiência e troca de ideias com os outros participantes. Não seria interessante aqui pontuar todos, mas ver a vontade e os desafios de se estabelecerem bases de movimentos estudantis nas faculdades de Comunicação no Sudeste afora somente me anima para continuar a trilhar este caminho de questionamento e melhoria das nossas condições como estudantes e futuros profissionais da área.

Tive, em especial, a oportunidade de conhecer melhor pessoas maravilhosas que estudam em minha universidade. Com eles, cantei muitas músicas e dancei bastante nas Culturais (!) A eles eu agradeço, pelos ótimos momentos. Também devo agradecer ao DACO – UFF, porque, como já disse uma vez a eles: “A existência e atuação desse diretório faz a minha faculdade ter sentido”. E, depois, a ENECOS e todas as maravilhosas pessoas que se empenharam em fazer do encontro um espaço de diversão, inclusão e cultura.

E assim, meu relacionamento com Seropédica não acabará apenas com a minha saída do campus da Rural – onde aconteceu o encontro. E, ao pensar nas pessoas que conheci e nos discursos que ouvi estes dias, lembro dos versos da querida Mercedes Sosa, que dizem:

“El canto de ustedes, que és el mismo canto.
El canto de todos, que es mi proprio canto.”

Muito obrigado por tudo, pessoal!

Por Mateus Machado
1º período de Comunicação Social – Jornalismo UFF